Fonte: http://g1.globo.com/

Com 67 anos bem vividos, a aposentada Amélia Irineu Gomes não quer ver o restante de sua vida passar ficando em casa ou lamentando a chegada da terceira idade. A moradora da pequena cidade de Tanabi (SP) pega todo dia um ônibus para Monte Aprazível (SP) para ter aulas de enfermagem na Etec do município.

A aposentada tem aulas de segunda a sábado, sendo que durante a semana, as aulas vão das 19h até às 23h, e no sábado, das 7h às 11h25. A resposta quando alguém pergunta para que tanto empenho em estudar, mesmo com a idade já avançada, está na ponta da língua. “É bastante tempo de curso, mas deveria ter feito isso há bastante tempo, estou correndo atrás do prejuízo e tenho dó das professoras que têm de me aguentar na aula. Porque fiquei 10 anos longe dos estudos e os outros alunos estão em um ritmo mais rápido”, afirma.

Amélia começou a ter aulas em agosto, depois de prestar um vestibulinho para conseguir uma vaga. Para fazer a prova, ela teve de terminar o ensino médio em um curso supletivo. Ao todo, a sala tem 40 alunos, a maioria não tem nem a metade da idade dela. “Quando eu entrei na aula achei que ninguém gostava de mim por causa da minha idade. Penso que eles achavam que eu ia morrer logo e para que eu estava fazendo isso, fazendo volume na classe. Mas depois um aluno vinha conversar, conhecia minha história, e hoje vejo que todos são meus amigos, viram que eu estou aqui a sério também”, diz.

O curso de enfermagem na Etec da cidade é dividido em módulos e, no meio do ano que vem, se tudo ocorrer bem, Amélia já poderá trabalhar como auxiliar de enfermagem. Como já trabalhou há vários anos como cuidadora de idosos, ela vê este curso como um crescimento profissional, mesmo aos 67 anos. “Já fiz outros cursos menores, como de cuidador de idoso. Já cuidei de idosos com Mal de Alzheimer e resolvi estudar porque assim a gente passa a ser respeitado e também passa a ganhar mais”, afirma.

 O problema para a Amélia é a velocidade de aprendizagem dos outros alunos na sala. Para ela, este é o único problema da idade, mas que tenta superar isso com muito esforço e mais dedicação do que os demais. “Quando chego em casa eu estudo, comprei até um computador para facilitar a minha vida. Se acontecer de reprovar, eu tento de novo. É um curso difícil, ainda mais para a minha idade. Mas eu vou trabalhar com vida, as professoras têm de cobrar bastante mesmo”, diz a aposentada.

Com seis módulos para completar, Amélia irá se formar como enfermeira apenas em julho de 2016, mas no meio do ano que vem já pode começar a trabalhar, fazendo estágio em algum local, como hospitais ou clínicas. Este é o principal objetivo da aposentada. “Quando terminar o curso e se tiver sorte de pegar um hospital, uma clínica geriátrica, com doente para cuidar, seria ótimo. Quero trabalhar e quando estiver acabando o curso quero sair entregando currículo. Não quero isso só para ocupar a cabeça, não sei o amanhã, se vou precisar ou não do dinheiro, então enquanto tiver energia quero trabalhar”, diz.

Amélia é viúva e mora sozinha em Tanabi. Com cinco filhos e 10 netos, ela diz que toda a família apoia a empreitada da aposentada de continuar estudando e trabalhando. “Meus filhos me apoiam sim. A maioria mora em outras cidades, mas os que moram em Tanabi até me ajudam e me dão carona para a aula”, afirma.

Para Eloísa Ariane Moreale, uma das professoras de Amélia, a idade da aposentada atrapalha um pouco na hora de aprender alguma lição nova, mas a experiência dela em cuidar de idosos a ajuda muito nas aulas práticas. “A parte da enfermagem ligada ao idoso ela tem um embasamento muito bom por ter cuidado de muitas pessoas. Agora tem a parte da prevenção de infecção em outros componentes da enfermagem que ela tem dificuldade. Mas ela sempre pergunta e tem força de vontade em aprender”, diz.